quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Carnaval

Era carnaval mais uma vez e Feliciana não conseguiu sair de casa. O som do frevo invadia seu quarto intensamente, confetes e serpentinas povoavam sua mente e pouco a pouco conseguia enxergar ao longe, o galo marchando com seu tom imperial. Estava frágil, a dor era mais forte do que seus dez anos de experiência com o carnaval pernambucano. Sentia que sem ela nada era igual, queria muito estar entre as máscaras, as bandinhas, as orquestras e todo aquele pessoal. Imaginava as fantasias. Ah, as fantasias! Sabia que nenhum carnaval passava sem estas roupas que nos transformam em seres diferentes, contos, desenhos e emoções. Cantarolava silenciosamente Capiba, e engolia um comprimido, perdendo assim todo o ritmo. Imaginava o sol queimando seu rosto enquanto descia aquelas ladeiras, e todo o prazer que isso lhe proporcionava, mas logo a dor aumentava. Como Feliciana gostaria de sentir o carnaval novamente. Mas ela não podia. Naquele dia nada fazia sentido, tudo rodava. Estava triste, a ressaca de ontem só passaria no dia seguinte.