segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Cantador

Quinta-feira, tempo nublado, dia esquisito. 
A tarde caia, e os primeiros gritos ecoavam. 
É um menino.
Alegria, telefonemas e lágrimas.
 
Tadeo nem era tão magro,
mas de gordinho não poderia ser chamado.
Sorridente isso sim. 
Custava largar aquele bocão escancarando a falta de dentes.
Sinal de canto de boca, meio preto, meio marrom. 
 
Agarrou-se logo aos seios da mãe.
Seis meses de leite materno foram suficientes.
Agora sim, gordinho por inteiro.  
Gengiva rosada e sempre à mostra, mas que não emitia nada.
"Nada, absolutamente nada!" Gritava a avó. 
 
Três passos e o chão.
Desequilíbrio para andar. 
Mas os dentes finalmente estavam lá. 
De voz não se sabia, uns ruídos, talvez.
 
No canto da boca, agora, uma grande mancha marrom.
Descobriu que para falar precisaria cantar.
Um passarinho sem penas. 
O cantador. 
 
Dia esquisito aquele.
Nem muito sol, nem muita chuva. 
Sorriso largo, dentes fartos.
Lágrimas muitas, resolveu partir. 
Adeus assobiado, cantado, não falado.
 
Tadeo era assim.
Ninguém nunca soube explicar.
"Aquele, isso, o gordinho que fala a cantar" 
Do que foi viver custou-se a saber.
Mas de lugar em lugar,
era um sorriso a ficar no seu andar.
 
Fora livre, como bem nascera para ser. 
Fora feliz, por livre conseguir ser.