terça-feira, 17 de novembro de 2009

Manuela na ponta dos pés

Há muito tempo ela não via o sol nascer. Até que resolveu partir.

Foi às 4h da manhã quando, de sacola na mão e o peito batendo forte, pôs os pés para fora. Fazia frio, e poucas eram as roupas que protegiam o tremer de seus dentes. Andava assustada, a passos curtos e olhar cansado. Queria caminhar alto, alcançar as estrelas e uma delas se tornar.
Diante era o horizonte, a caminhada e a esperança da chegada. Foram dias de peregrinação até perceber que não sabia aonde queria chegar. Custou a olhar para trás. Descalça, as sandálias perdidas ficaram. Sentou por uns instantes. A sua sombra fazia escurecer o velho telhado conhecido seu. Era casa. A sua. Tinha voltado, sem entender o porquê. Mas agora ali estava, e esperava o sol descer.

Manuela havia decidido fugir do seu cotidiano fatídico em busca de uma constelação distante, mas percebeu que correr na ponta dos pés aumentava a dor e a vontade de voltar. Por isso, resolveu lutar, de pés firmes no chão e no seu lugar.

O sol ia nascer, e agora ela resolveu ficar.