terça-feira, 17 de novembro de 2009

Manuela na ponta dos pés

Há muito tempo ela não via o sol nascer. Até que resolveu partir.

Foi às 4h da manhã quando, de sacola na mão e o peito batendo forte, pôs os pés para fora. Fazia frio, e poucas eram as roupas que protegiam o tremer de seus dentes. Andava assustada, a passos curtos e olhar cansado. Queria caminhar alto, alcançar as estrelas e uma delas se tornar.
Diante era o horizonte, a caminhada e a esperança da chegada. Foram dias de peregrinação até perceber que não sabia aonde queria chegar. Custou a olhar para trás. Descalça, as sandálias perdidas ficaram. Sentou por uns instantes. A sua sombra fazia escurecer o velho telhado conhecido seu. Era casa. A sua. Tinha voltado, sem entender o porquê. Mas agora ali estava, e esperava o sol descer.

Manuela havia decidido fugir do seu cotidiano fatídico em busca de uma constelação distante, mas percebeu que correr na ponta dos pés aumentava a dor e a vontade de voltar. Por isso, resolveu lutar, de pés firmes no chão e no seu lugar.

O sol ia nascer, e agora ela resolveu ficar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Termine essa história

Inicio por Raimundo Carrero, final por Méle Dornelas.
" Entraram no botequim para um café. Inimigos, não se falavam desde a infância. Sentavam-se ali todas as tardes e ficavam horas em silêncio. Um servia café ao outro, mesmo correndo perigo. Desconfiavam de uma dose fatal de veneno. Mas não compreendiam a vida sem esse risco...“
(Raimundo)
...Tudo girava em torno desse secreto mundo paralelo. Os olhares pesados não vinham sempre só deles. Seus diálogos mudos eram sempre barulhentos. Josué era assim. Inventou esse inimigo imaginário para acabar morto, envenenado por ele mesmo.
(Méle)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Lolitta a espreitar

Lolitta havia tempos que não se arrumava tão bem. Sempre com o melhor perfume, o melhor vestido e o melhor olhar. Sabia de que horas e aonde deveria estar. E lá estava ela, só a espreitar. Benjamim nem desconfiava, passava reto, faceiro, sempre a cantarolar. E ela ardia em paixão, se segurava toda, quase sempre deixava cair o coração. Benjamim tinha pressa, a pressa dos trabalhadores e batalhadores!
E foi assim, por um, dois, três, quatro anos. Lolitta sempre a espreitar, Benjamim sempre a passar.
Até o dia em que Benjamim resolveu se casar. Foi um rebuliço na pequena cidade de Lolitta. Reboliço maior foi o que teve em seu coração. Passou dois dias de cama. Nesse tempo ela nem ouviu Benjamim passar. Ah Lolitta, guardou esse amor e assim ficou.
Benjamim se mudou com a mulher e os filhos. O amor que sentia por eles era muito para aquele lugar.
Mas, da pequena cidade levou um olhar. O da pequena moça que ficava sempre a lhe espreitar.

domingo, 5 de abril de 2009

Menino, menino

Com 11 anos ele tinha toda a imaginação do mundo. Desenhava, escrevia e, principalmente, sonhava. Um dia era super-herói, no outro agente secreto. Anotava tudo em seu caderno para não esquecer do quanto ele podia voar. No seu mundo nada era igual, tudo se transformava. Tinha alguns amigos, não muitos, mas aqueles que viajavam junto com ele. Queria tudo e ao mesmo tempo nada, se nada significasse só aquela garota. Ele tinha medo, tinha coragem e segredos. Enfrentava os mais temíveis monstros, fantasiava duelos e tomava sorvete na esquina. Na cabeça milhões de idéias. Sonhava acordado, seguia dormindo. Era assim, com 11 anos, um garoto. Como todos os outros e como nenhum outro. Apenas um menino.