segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Quarta-feira ingrata [Parte 1]

Já se sabia, dois de um não dá três

Seria estupidez imaginar

O céu nem sempre abre para todos

Às vezes, é só uma parte que se estraçalha

Ou um mundo que se transforma

Não se sabe em qual formato

.......................................

Josina, ou Josefina

Não havia certeza sobre seu primeiro nome

Mas era filha de Seu Agostinho

Nome vindo do outro lado do Atlântico

Meio Portugal, outra parte Espanha


Era noite de quarta-feira de cinzas

Década de 50, ou 40

Meu confidente não lembra

Mas havia calor

Como nunca antes

Nossa Josefina-Josina saiu à meia noite

Manto em ombros, um pedaço de gente em mãos

Correu, como nunca, como precisasse

Perdeu o ônibus, o último

Achou seu táxi e partiu

Infelizmente, uma curva errada

Uma ligação. Premiada

A moça com nome de inicial J

Perdeu naquele táxi

a terceira pessoa da equação


Não que tivesse ilusões, seria estupidez imaginar

Mas sempre resta alguma coisa de esperança

Mesmo no calor

Chovia, céu fechado, nuvens cinzas

O céu nem sempre abre para todos

Mas o clima quente permanecia


E foi nesse calor de fim de carnaval

Que se foi o pedaço de gente. Retaliação

Às vezes, é só uma parte que se estraçalha


Algemas, caos, dor. Seu mundo se transforma

O formato se sabe, quadrado.

.......................................

Meu confidente, ah, meu confidente

Totalmente errado

Essas coisas não acontecem fora de um tempo

Não no país Brasil


Era 1978, e Joana Agostinho perdeu seu filho

Foi presa e torturada

Onde existe opressão, dois de um não dá três

Mas sempre resta alguma coisa de esperança

Eles verão.

Nenhum comentário: