Camadas do dia em vírgulas mal colocadas são simples espaços no tempo
Talvez atrasos desimportantes, ou acasos desencontrados
Por vezes, um tropeço no andar das horas
Dois suspiros ao meio dia em ponto
Fagulhas medidas em prosas
E se assim posso descrever:
intervalos bem colocados na vida.
Escrivaninha
Escrever e sentir.
sexta-feira, 29 de março de 2024
Vírgulas
segunda-feira, 20 de novembro de 2023
Quarta-feira ingrata [Parte 2]
Esta história não começa com um bom final
Bem se sabe: cada um conta ao seu jeito
Meu narrador, infelizmente, não é afeito às coisas belas
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Já não se tinha notícias da filha de Seu Agostinho
Jovem e engajada naquelas histórias de revolução
Tinha um cartaz de um rapaz barbudo no quarto
Eu, o narrador, achei que fosse um dos Beatles
Tolice a minha, me disse aquela que escreve
Então, resolvi investigar
Joana era seu nome, 27 anos
Se não me engano, se engraçou com o rapaz do jornal
Exilado, depois de torturado
O tal do jornalista deixou semente
Joana bem sabe, pena, Seu Agostinho também
Filha de militar, nessas condições
Só tinha uma escolha
Eu, o narrador, desaprovaria
Mas só estou aqui para contar essa história
Carnaval em Pernambuco, bem se sabe
É um bom cenário para se esconder
E fugir
Quem escreve me contou
Joana achou um refúgio em Olinda
Mas bem se sabe que, em Olinda,
Nada é secreto
Os milicos, já orientados por Seu Augostinho
Seguiram os rastros de frevo
O pequeno Ernesto já havia nascido
Joana tentou,
E se você leu o conto anterior
Bem sabe o final dessa história
Mas quem escreve para eu narrar
Me recriminou
E assim, pois, termino o que foi me designado a contar
Não se tem trégua com quem flerta com o horror
O pequeno Ernesto teve seu curto fim
Joana foi levada
Seu Agostinho até chorou
Mas sem remorso
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Desculpem, aquela que escreve não terminou
Então, preciso continuar
Sou afeito aos finais tristes, ela não
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Joana foi solta, houve anistia
O país conquistou a democracia
A mãe de Ernesto, hoje, ainda existe
Vive no esperançar da justiça
Eu, o narrador, não acredito muito nisso
Mas sou obrigado a confessar:
se há quem sobreviva, é porque houve quem resista
E sempre haverá.
Quarta-feira ingrata [Parte 1]
Já se sabia, dois de um não dá três
Seria estupidez imaginar
O céu nem sempre abre para todos
Às vezes, é só uma parte que se estraçalha
Ou um mundo que se transforma
Não se sabe em qual formato
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Josina, ou Josefina
Não havia certeza sobre seu primeiro nome
Mas era filha de Seu Agostinho
Nome vindo do outro lado do Atlântico
Meio Portugal, outra parte Espanha
Era noite de quarta-feira de cinzas
Década de 50, ou 40
Meu confidente não lembra
Mas havia calor
Como nunca antes
Nossa Josefina-Josina saiu à meia noite
Manto em ombros, um pedaço de gente em mãos
Correu, como nunca, como precisasse
Perdeu o ônibus, o último
Achou seu táxi e partiu
Infelizmente, uma curva errada
Uma ligação. Premiada
A moça com nome de inicial J
Perdeu naquele táxi
a terceira pessoa da equação
Não que tivesse ilusões, seria estupidez imaginar
Mas sempre resta alguma coisa de esperança
Mesmo no calor
Chovia, céu fechado, nuvens cinzas
O céu nem sempre abre para todos
Mas o clima quente permanecia
E foi nesse calor de fim de carnaval
Que se foi o pedaço de gente. Retaliação
Às vezes, é só uma parte que se estraçalha
Algemas, caos, dor. Seu mundo se transforma
O formato se sabe, quadrado.
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Meu confidente, ah, meu confidente
Totalmente errado
Essas coisas não acontecem fora de um tempo
Não no país Brasil
Era 1978, e Joana Agostinho perdeu seu filho
Foi presa e torturada
Onde existe opressão, dois de um não dá três
Mas sempre resta alguma coisa de esperança
Eles verão.
Conto para uma cidade de homens.
Não julguem a moça
Talvez exista pressa
Ou paz
Olhos como jabuticaba
Olhar de mar
Geni não seria
Todo mundo quer provar
Seja de paz, ou amor
Um pouco de nada não faz mal
A moça nem sabe
Já foi julgada
É um caminho, um dos
Julguem a moça
Comam a jabuticaba
Com pressa, sem paz
Enfrentem o mar
Geni é percursora
Um muito de tudo faz bem
Nem paz, nem amor
A moça já sabe
Todos os caminhos
São seu fim
sábado, 18 de setembro de 2021
Maria
Eu sou Maria, de primeiro nome. O Méle veio para simplificar o Arméle, que deveria ser secundário nessa formulação composta.
domingo, 8 de novembro de 2020
Quarentena na Aurora
Quarentena
quem esqueceu de lembrar
não viu o último dia
dos dias compridos como semanas
Quantos dias fazem uma quarentena
quantas quarentenas resumem uma vida
quantas vidas somam nossa espera
Em dias quentes
beba água gelada
abra a cerveja guardada
dance em ritmo Caetano
e esqueça essa rima Bethânia
Rocheda é a Rua da Aurora
é lembrada sem esperar
duvido até ali o tempo passar
sem nem quarentena pra lembrar
Quarentena
é só pra gente que dança Odara
ouve Gal e tem ressaca
a Aurora é só o sonho
dos dias compridos da semana
o último dia pra lembrança
Quem esqueceu de lembrar,
lembrou só da Aurora pra não chorar.
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
Astro Feroz
Esperava apenas pelas nuvens
De certo, o sol já não contava mais com sua crença
Brilhante e forte, porém, grande astro feroz
As massas brancas lhe pareciam mais amenas
Chuva e sombra. Formas da imaginação
Não que o sol lhe fosse ruim
Só não queria as marcas do tempo
Pouco a pouco se levantou ao céu
Calculou baleias e rinocerontes
Até coelhos desenhou na umidade do vento
Mas enganou-se ao achar que estaria longe dos raios
Veio a quente brutalidade a caçar seus feitos
Rinocerontes sem chifres, baleias sem mar
Coelhos em orelhas desmanchadas
O sol é feroz, nem tenha dúvida
Temeu as luzes do tempo
Mas não havia como fugir da certeza
Ele não esperava pela grande estrela
Mas ela, meu amigo, não se esqueça
Pode até encadear a imaginação
Mas é seu brilho quem o puxa à terra
E revela que a vida é céu, mas também chão
Porque o tempo passa, seja qual for sua espera
terça-feira, 17 de setembro de 2019
Para tantos amores no Recife
“Existirmos a que será que se destina”, o vento seco na pele, o sol fazendo sombra na grama de flores amarelas, a bicicleta no ritmo candango. Quis cantar com Caê, cantar saudade. Todo dia essa terra alaranjada me conta um segredo. Brasília, tem vezes, me faz chorar o Recife.
quarta-feira, 31 de julho de 2019
Valsa da cura
que eu encontro um verso e vou
Conta-me como sentias
que eu junto as dores em flor.
quinta-feira, 13 de julho de 2017
Das Luzes
domingo, 24 de abril de 2016
Planetária
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Tempo
Tempo de passo torto.
Aguça no peito lembranças, amores.
Tempo de riso solto.
Afaga a mente, acolhe esperança.
Tempo de palavra em fogo
Queima aqui dentro, joga distante lembranças.
Chora sem temor, alarga o riso lá fora.
Tempo de tempo errado.
Vem de sonhos, vem sem demora.